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terça-feira, 14 de abril de 2009

O cárcere da alma

Mesmo com a exaustiva pressão anti-tabaco, fui à Loja de Conveniência no início da noite porém não tinha minha marca de cigarro. Mesmo não querendo, como não ter direito à vontades, compro outra marca, afinal pior seria ficar sem cigarro algum..
As vezes lembro-me das primeiras vezes na adolescência quando comecei a tragar. Foi difícil, acreditava que não conseguiria e tinha a certeza de que precisava daquilo para aparecer em público..
No início o vício tabagista era ímpeto de uma nova força guiada por hormônios juvenis, depois virou bengala e agora acho que é meio que medo de como enxergar o mundo sem um cigarrinho. Então, atualmente, "medo" é a palavra certa. O impulso juvenil se tornou amuleto de meia-idade..
Na antiguidade o vício de gregos e romanos era a guerra, a cultura e o sexo. O tabaco só entra depois, durante as primeira e segunda guerras mundiais. Provavelmente era o consolo do soldado em território hostil..
Hoje parece que os vícios se tornaram mais acessíveis..A maioria deles é químico e podem estar na legalidade, como os remédios que proporcionam sono, ou, simples remédios que até podem ser de placebo e que atendem à classe dos hipocondríacos. A paixão também é um vício, chocolate pode ser vício e a filantropia também pode ser um vício.
Fico cá imaginando o planeta terra sem vício algum, como seria?
O vício chega rápido quando não podemos lidar com nossas carências afetivas. Ele é a carência do "Eu" e as vezes preferimos fazer o "Eu" sucumbir, obviamente não sem remórcios, pelo desejo surreal de não ter mais carências..
Causa-me desconforto não ser tão forte quanto imaginava ser na adolescência e não poder me classificar livre do vício do tabaco
Tenho plena certeza, hoje, que os anti-tabagistas estão totalmente certos e gostaria de compreender o mundo a partir do Nirvana a partir da paz...
Admiro os irmãos budistas que se isolam e encontram a si mesmo, sem precisar nem ao menos comer. Não percebem o envelhecimento do próprio corpo nem suas necessidades. Dizem que quando encontramos a luz espiritual, a sensação de paz é tão forte que nos entregamos à contemplação. Nada mais nos humilha, nos amedronta, nos acua, nos atormenta. Não há mais dores e podemos enfim perdoar os demais e a nós mesmos. Nesse ponto nos tornamos energia além da matéria..
Sócrates dizia que "O corpo é o cárcere da alma". O corpo, sendo matéria, engana muitos, os fazendo acreditar que todo resto é sua extensão. Porém, talvez seja a missão dele e diga por passagem, ele realiza muito bem. Prisioneiros de nossa matéria somos quando criamos nossas ilusões e preferimos esquecer de que sempre existe mais à nossa espera..
A gente faz representações sobre os vícios a partir de nossa matéria mas conseguimos fazer poucas sobre como alcançar a paz real..Aliás, alguns insistem em dizer que ela não existe, visto que desde a origem da vida orgânica, o que existe é competição e luta. Mas, esse é o olhar material, coisificado, um dos unicos que aprendemos a reconhecer e que não é suficiente para falar das coisas do universo ou dos universos.
Não sei se o melhor é tornar a matéria atriz coadjuvante ou mera parceira de nossa estadia aqui, porém sei que está faltando algo para sermos inteiros.

Um comentário:

SARASWATTI disse...

Querida Cecília,
Fiquei profundamente impressionada com esse seu texto. Lindo, claro e sincero. Gostaria de expressar minha admiração e corroboração com as suas idéias. "A gente faz representações sobre os vícios a partir de nossa matéria mas conseguimos fazer poucas sobre como alcançar a paz real.." Eu sempre digo: No dia em que eu tiver tempo para fazer yoga ou aprender a meditar e conseguir aquietar a minha alma e ansiedade, talvez eu consiga parar de fumar.
Parabéns pelo texto!!!
Beijos,
BEN.