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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Fui roubada?

Ontem-ontem, em uma correria fenomenal: Dar HTP´s, fazer super mercado, voltar para a escola e concluir que o dia foi mais ou menos assim: Você discute com o grosso de seu colega, que fala muito, mas não tem leitura nem bases e você nada consegue, além de uma fútil discussão, ou, o namorado te larga, mas quer você para amante, provavelmente porque sexo e sentimentos não estejam mesmo tão ligados...
Eu estava num desses dias escrito no "Segredo", onde tudo se inicia errado e parece que num efeito dominó, a situação alcança o pico.
Deixo o carro e saio correndo com muitos papéis e tentando me esquivar do diretor, pois ainda posso levar uma bronca pelo atraso. Porém, tudo parece estar bem até eu voltar ao carro para pegar meu celular e perceber minha bolsa em um lugar que não deixei. R$10,00 caído embaixo do banco. Mesmo assim não acreditei em nada mal e tentei achar o celular. Não encontrando-o, liguei para ele, para ouvir o som, que só eu tenho (tinha) de uma música flamenca. Mas, deu caixa postal. Então, acredito! Fui roubada. Levaram o celular e uns R$ 80,00.
Óbvio que me veio o desespero.
Atualmente, em coisas pequenas, como num chip, costuma caber partes consideráveis de nossas vidas. O número de meu celular já estava em muitos contatos que fiz, sem dizer que seu som me ajudava a acordar de manhã.
Mas quem seria o terrível ladrão?
Foi visto no local um garoto, melhor um garotinho. A criança tem uns 9 anos. Alguns o conhecem. É da periferia. Não vai à escola, vive nas ruas, mesmo com mãe. Usa crack já há um ano. Não é traficante, mas é "furtante".
Pensei em Drummond, quando dizia em "Favelário Nacional": "Não tenho medo de sua faca ou revólver mas tenho medo que descubras o quanto não fui teu irmão e não me custava muito ter sido"..
Mais do que eu, essa criança já tinha sido roubada. Foi excluída do próprio lar, pela sociedade primeira, a família..
Deram-lhe apenas um nome e tiraram-lhe toda a dignidade e direitos que um vivente deve ter.
Pior, enquanto o processo se realiza, todo mundo vê e a única atitude é esconder bolsas.
Pagamos em conjunto, o preço alto da indiferença pela nossa própria espécie e seria tão mais barato sermos irmãos..
Crianças não morrem mais devoradas por animais, como no período das savadas. Nós somos seus devoradores indiretos..
Eu me calei, enquanto aquele garotinho era roubado. Eu roubei de minha mente e de meus juízos sua imagem inocente e dependente de nós.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

40!! e Parabéns à Obama


Pois é, semana passada, em vez de dezoito, fiz quarenta anos, no dia 28 último.
Que estranho! Não é como passar por um dia, é como ficar de frente com uma novidade: Estou pelo menos na metade de minha vida util. Então, é preciso reavaliar algumas coisas, já passadas, para interpretar essas quatro décadas.
Me lembro como se fosse hoje, que, no trabalho, em uma indústria química, na data de meu niver, o meu superintendente veio me cumprimentar e disse "- Dezoito? Passará bem rápido!". Será que o safado me rogou praga? Ou apenas dizia a verdade? Embora tenhamos a sensação de que o tempo está parado, percebemos a carteira de motorista tirada aos dezoito e que dura vinte anos, que já está na hora de ser renovada. Sem dizer que vem a lembrança daquela professora da 8a série, chamada Maria Rita, que disse: "- Olha, estamos na década de 80, mas, um dia dirão para vocês: "- Vocês não sabem nada, pertencem ao século passado". Nossa! Na época, ao ouvir tal premissa, nem me importei, porque não tinha nem quatorze anos e não conseguia prever o que era mudar de século.
Maravilha! Agora já mudei de século.
Muitos relutam em não assumir ou reconhecer a sua idade e com isso, anulam sua vivência. Esse grupo sempre vem com o mito de que idade está na alma, mas, isso, para alguns, é contraditório, porque negam ativamente a idade física do corpo. Não percebem que os músculos não são mais os mesmos, que os culotes insistem em se acumular (mesmo com Lipos), que as corridas terão que ser reduzidas por falta de fôlego e que aquela roupa apertada é muito desconfortável . Acredito que o consumismo e o utilitarismo ajuda nesse valor, afinal velhos produzem menos e consomem menos.
Então, a estética do belo é voltada para o jovem? Acima dos 30, 40 ou 50, a beleza estaria em apenas ser um avô bondoso??
Estamos na ditadura de uma estética, onde a idade é, por muitos, camuflada ignobilmente e querer ser maduro reconhecidamente, parece que é sinônimo de falta de sensualidade ou desejo de vida.
Assim, a minha geração, que já foi chamadade Hollywood, coca-cola, é agora chamada de Super Renew (para poucos homens que não sabem, é um creme da Avon, que promete repuxar tudo).
Repuxamos a cara, tomamos fórmulas novas, para novamente, sermos aceitos em um grupo "moderno". Já fumamos demais no passado, para também sermos inseridos no grupo do colégio.
Em pensar que agora parecemos entrar realmente na Idade da Razão, onde a compreensão sobre tudo nos vêm, quando percebemos a inutilidade de certas lutas. Não lutar, dá mais resultados..
Antagonicamente, não queremos compreender nem nosso fiel e mais próximo amigo: O corpo. Temos vergonha dele e de como está se transformando rápido. Queremos esconde-lo por uma vaidade medíocre. Deixaremos esse corpo realmente doente porque nos recusaremos a procurar um geriatra que nos dê dicas, porque um professor de academia pode trazer resultados mais "visíveis".
Não teremos a coragem devida para reconhecer o cansaço desse corpo que já fez muito: Subiu em pé de jabuticabeira, ralou os joelhos em bicicleta, correu dos serventes de escola, fez sexo em quantidade para descobrir a qualidade, experimentou o sol das praias ou piscinas.
Um corpo que já viu muito do mundo pela pele e que agora pode estar cansado porque existe o tempo físico sim.
Não obstante, já servi (e em partes ainda sirvo) à esta ditadura estética. Já passei fome em frente às comidas que eu mais desejava, já fiquei torrando no sol do meio-dia por acreditar que era o jeito mais rápido de ter marcas de biquini, já tive os cabelos tão repuxados que os olhos ficaram orientais..e se me devolvessem o corpo de vinte, eu só ficaria mesmo com ele, se também me fizessem uma lavagem cerebral pois meu espírito não caberia mais num corpo de vinte..
Ainda estou em transformação e sei que são paliativos os "reparos" estéticos...Porém, fico imensamente feliz por ter vencido. Conquistei conhecimentos e não me transformei em uma criatura medíocre ou fútil. Meus olhos ainda vêem, com espanto, o espelho, mas agora sou personagem principal e não mais platéia das cenas que o vento levará.
Num período posterior, sobrará lembranças e depois, creio, que estas se tornarão confusas e deixarão paulatinamente de existir..O sabor de já saber de tudo isso antes, é estranho mas necessário, pois a luta não parou, apenas está se definindo...

Para algumas coisas, me são significantes quatro décadas, uma é saber que a injustiça sócio-internacional não é para sempre. Eu assisti à filmes como Malcom X, vi negros na década de oitenta serem surrados na África do Sul e o consequente movimento do Apartheid. Vi o país da "liberdade" (pelo menos tem a estátua) tratar seus cidadãos afro-descendentes com guetos e impunidade aos fazendeiros sulistas. Agora, Obama, um negro super charmoso, bonito e simpático, ganhou a presidência. Até José Saramago, disse que o fato foi uma revolução. Esse foi um verdadeiro presente de aniversário. Viver o suficiente para saber que as coisas, mesmo as mais antigas e repugnantes, mudam de alguma forma. As pessoas, mesmo que depois de muito tempo, acabam não se conformando com o que não concordam.
"Tudo ao seu tempo"..Fui sortuda, atravessei o século e vi os oprimidos e que tinham sede de justiça, chegarem ao poder. Agora resta saber se estes serão melhores dos que os antigos opressores ou se opressão não é o mau do mais forte . Parabéns para B. Obama!