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quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Meu pai não foi hippie


Estou aqui fazendo múltiplas tarefas ao mesmo tempo, sem conseguir significante organização (isso não é bom). Organização é um artífice muito complexo e quase nunca dei conta, teria eu algum tipo de retardo? Mais essa!
Hoje vi um retrato antigo de meu pai. No retrato ele estava com alguns homens de bicicleta, no período onde os aros eram os must e ele parecia ser feliz. A família dele veio da Alemanha, na época da 2a Grande guerra e sofreram muito aqui no Brasil.
Começando pelo meu avô, pessoa que pertenceu ao exército alemão, que perdeu seus dedos da mão com bombas e que nunca viu o sentido na vida, depois que descobriu que entre morrer de fome em campos estéreis ou morrer de tiro de canhão, não tinha diferença substancial..Quando veio para cá, tornou-se carpinteiro (e dos melhores) mas não resolveu seu problema existencial. Decidiu parar de lutar contra esfinges e resolveu se entregar. Tornou-se alcoólatra. Diziam que um péssimo marido e também não era seu próprio melhor amigo. Foi encontrado morto numa pensão de quinta categoria, enforcado. Alguns disseram que foi suicídio (a última honra?) mas a sua época era bem tumultuada. Getúlio Vargas, que em princípio apoiou alemães na década de trinta, depois os perseguiu abertamente...
Seu nome era Felisbert e, infelizmente, não restaram muitos para lembrar de sua história. Provavelmente, ele foi uma criança com muitos sonhos e com muitas peripécias mas todos nós temos que, cedo ou tarde, enfrentar o enigma e quase todos nós somos devorados por não decifra-lo em tempo record.
Não obstante, meu pai, trabalhava demais. Muito trabalho para quem nasceu doente, teve tuberculose na puberdade e não tinha projeção de vida madura. Ele era do tipo envelhecido pelo excesso de atividade e de pouca saúde. Tudo que ele queria acho que era sustentar e manter sua família: Três filhos, sendo que minha irmã mais velha se foi aos vinte e sete anos..Ele lutou muito para fazer a casa onde nós morávamos, que na época parecia ser pequena com quatro quartos e hoje tornou-se grande demais, sendo apenas habitada por minha mãe.
Acho que as coisas eram difíceis para todos até a década de 80, onde não haviam facilidades alguma de créditos, nem reconhecimento humanístico de trabalho..Bem, ele fez o que todos os pais da época faziam..Se tivesse sido playboy ou hippie, talvez sobrevivesse, mas tenho dúvidas se teria decifrado o enigma existencial, pois querendo ou não, estamos amarrados à nossa época e costumes, tecendo sempre projetos com objetivos em grupo...
Salvo na infância, nunca tive um bom relacionamento com ele. Não tinha diálogo e eu acreditava, que não sabia como falar com ele. Não era uma questão de idioma e nunca encontrei a explicação concreta para isso. Acho que eu e ele precisávamos de uma segunda chance a partir do zero. Porém, sabemos que, nesse plano, zero não existe.
Na sua época de pai responsável, ele tinha muitas dívidas, porém, o fato é que quando meu pai quitou todas as dívidas, se aposentou e conquistou seus bens pretendidos..ele partiu. Será que o que mantém a gente aqui é o trabalho para se fazer dívidas e depois consumir ? Essa é a incógnita do século. Mas, pelo menos agora tem a second life e quem sabe possamos achar uma resposta prazerosa..

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